O dia se espatifa: 2013

domingo, 29 de dezembro de 2013

Retrospectivar é viver

Quando trabalhava em redação, fazer retrospectivas era uma das coisas que eu achava mais divertido. Agora, robôs fazem isso pra gente.

Para este 2013, tem a do Facebook.

E esta outra, feita com as fotos mais curtidas do Instagram...


domingo, 22 de dezembro de 2013

Enfim, meu "relato de parto"

Desde a gravidez, li a respeito e ouvi falar do "plano de parto" e do "relato de parto". Plano de parto eu nem pensei em fazer. Tendo levado tanto tempo para engravidar, achava um despautério imaginar que poderia planejar um parto. A única coisa que fiz foi encontrar uma obstetra que me disse que, sim, faria parto normal mesmo eu estando acima do peso, com 38 anos e tendo uma gravidez tão desejada. Sim, porque os três motivos foram suficientes para que três cesaris..., ops, ginecologistas, que com quem me consultei antes da querida Dra. Rosi Balbinotto declarassem peremptoriamente que com "essas condições" eu dificilmente conseguiria parir.

Abre parênteses. Eu havia ouvido falar en passant sobre "humanização de parto" e "partos domiciliares" e "doulas" e, não, eu não precisava de nada disso. Só que tenho medo-pânico de qualquer cirurgia, e a ideia de abrirem a minha barriga comigo acordada, com meu marido do lado, cortarem sabe-se lá quantas camadas de tecido pra chegarem à minha filha (e se cortassem ela????) me apavorava. Então, quando me dizem que eu fui "corajosa" por ter querido (e conseguido) parto normal (ainda que com analgesia), eu rio internamente e lembro que foi tudo por medo mesmo. Fecha parênteses.

Já o relato de parto eu comecei a querer fazer depois de entrar para o maravilhoso mundo da "maternagem" e todos os seus jargões e todas as suas panelas e personagens. Tem as que defendem amamentação ad eternum, e as que defendem mamadeira desde a maternidade. As que fazem enxoval TODO em Miami e as que usam fraldas de pano e só roupas doadas. Tem as que acham que a forma como a criança nasce define um monte de coisas na vida dela (e da mãe dela) e as que dizem que "sentir dor é para índia", explicando por que marcaram a cesárea para a 38ª semana de gravidez. Enfim, foi "convivendo" virtualmente com as que pensam e militam em torno da forma do nascimento que descobri a figura do relato do parto.

Desde que a Lina nasceu, li vários relatos de partos, muitos deles extremamente emocionantes, de mulheres que lutaram muito e conseguiram (ou não) parir o filho. Desde que me dei conta da existência desse mundo e dessa linguagem (descobri, por exemplo, que a cesárea não é considerada parto, mas cirurgia, e que TP significa "trabalho de parto"), venho ensaiando meu relato de parto. Nunca escrevi o meu, formalmente. Daí ontem, quando uma colega/amiga comentou sobre a ansiedade que está tomando conta dela em suas últimas semanas de gravidez, lembrei disso. E lembrei que escrevi, sim, uma espécie de relato de parto. Fui atrás e encontrei o texto que reproduzo abaixo e que foi feito do dia em que a Lina completou seis meses.

LINDA DE VERDADE
Há exatos seis meses, mais ou menos neste horário, eu estava sentada na frente deste mesmo computador escrevendo um e-mail para convidar o pessoal do trabalho para um almoço de despedida. Era quarta-feira, e sexta seria meu último dia de trabalho antes da licença-maternidade. Resolvi sair duas semanas antes da data prevista para o parto para acertar detalhes. Tinha que preparar as lembrancinhas e rearrumar as malas da maternidade - a minha e a da Lina.
No dia anterior, tinha ido à médica, que me tranquilizou. Eu estava com um centímetro de dilatação, a Lina estava posicionada, mas não encaixada. Estava pronta para nascer, mas aparentemente ainda ficaria umas duas semanas lá dentro, ganhando peso. De qualquer maneira, se eu tivesse alguma contração com dor, não precisava me assustar. Eu poderia ficar alguns dias sentindo contrações com dor.
Perto da meia-noite, enviei o e-mail com o convite para o almoço de quinta-feira e dei uma última olhada no Facebook e na caixa de e-mail. Na noite da quinta, comeríamos uma paella feita pelo Mário de SantiSanti, na casa dele e da Dilza de Santi. Perspectiva gastronômica mais do que animadora. Levantei da cadeira e... Opa! 
- Olha, Márcio, a minha primeira contração com dor!
Márcio de olhos arregalados:
- Tá, e o que isso quer dizer?
- Que tá chegando perto da Lina nascer.
Olhos mais arregalados:
- Mas já???
- Não, essas dores podem durar mais umas duas semanas.
Olhei o relógio. Era 0h05. Fui tomar uma ducha antes de dormir, porque apesar de ser 12 de abril, fazia calor. Entrei no box e comecei a rir.
- Márcio, olha isto aqui.
Olhos voltando a arregalar:
- O quê? Tu fez xixi?
- Acho que estourou a bolsa.
Liguei para a médica, que mandou ir para o Moinhos de Vento, entrei no banho, comecei a sentir mais contrações, saí do banho sentindo contrações, botei o primeiro vestido que apareceu na frente (o mesmo que tinha usado no chá de fralda), calcei o par de havaianas que ganhei do amigo secreto de natal da firma (que não combinava com o vestido), penteei os cabelos molhados, sentindo contrações, apressei o Márcio, dei tchau pro Bubi e a Farofa (perplexos) e entrei no carro. 
- Não vamos levar as malas?
- Não precisa. Parto demora. Amanhã a mãe leva para a gente.
(Não quis explicar que tinha tirado tudo de dentro das malas para arrumar melhor naquele fim de semana.)
Fizemos o trajeto Zona Sul > Moinhos num quase silêncio nervoso, emocionado, tenso, alegre. Com a falta de movimento, levamos 18 minutos, com as contrações ficando cada vez mais próximas e cada vez mais intensas. (Esse negócio não tinha de ser mais lento, não?) Passamos pela rua do Mário e da Dilza e eu me dou conta:
- Acho que não vamos comer paella amanhã...
Era 1h10 quando chegamos à recepção da maternidade. Às 3h26, a Lina nasceu. O Márcio esqueceu que não queria ver parto nem de trás de uma cortina e acompanhou do meu lado todo o parto normal. Com a nossa menina no meu colo, os dois gritamos:
- Ela é linda! É linda de verdade! 
(Sempre dizíamos que a acharíamos linda mesmo que fosse feiinha, mas ela tinha nascido linda. Linda de verdade.) 
Na sala de recuperação, com a Lina adormecida no colo do Márcio envolta em cueiros do hospital (a mala não tinha ido, lembra?), atendemos à ligação da pobre da minha mãe e da Carolina que tinham se abalado do Moinhos ao Jardim Isabel para pegar as malas (que precisavam ser refeitas, lembra?). 
***
Há exatos seis meses, nossa vida mudou completamente. A Lina estreou na nossa vida, e a cada instante fica mais linda, mais querida, mais importante. A cada instante, comemoramos mais um instante de vida e de alegria e de aprendizado. Se datas redondas - ou quase, como esta - servem para fazermos balanços, uso a de hoje para reafirmar a certeza de que toda a nossa espera (foram oito anos) valeu a pena. Eu poderia escrever um texto deste tamanho sobre cada dia, mas os sorrisos que ela dá e os que provoca na gente são muito mais eloquentes.
Felizes seis meses de vida, minha Lina. Obrigada por estar aqui. A mamãe te ama mais do que absolutamente tudo nesta vida. 
Porto Alegre, 12 de outubro de 2012. 

sábado, 21 de dezembro de 2013

Caindo, levantando e seguindo em frente... :-)

Vejo muita gente reclamando que 2013 não foi um ano bom, torcendo para que acabe logo. Como todos os outros anos, 2013 teve coisas boas e ruins, tristezas e alegrias, surgimento e fortalecimento de amizades e desencantos, cansaço e ânimo.

Para nós, 2013 foi o ano em que a maior alegria da nossa existência deu os primeiros passos, aprendeu as primeiras palavras e demonstrou incansavelmente que não importa quantos tombos levemos, podemos e devemos sempre levantar e seguir em frente. Sempre sorrindo (mesmo depois de chorar um pouco, pedindo colo).

Um beijo enorme para os amigos e amigos de amigos e até para quem não é amigo de ninguém, que todo mundo merece um pouco de carinho 
 



quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

10 anos esta noite: uma década de espatifaria

Lembrei por acaso neste fim de semana: em dezembro faz dez anos que tenho o blog. Fui conferir, e fez dez anos há pouco mais de meia hora. O primeiro post, do primeiro blog, foi este aqui. Eu conto a historinha resumida ali na direita, abaixo da caixinha do Facebook.

Aliás, nos primeiros anos, eu postava horrores. Durante muito tempo, o blog foi meu Twitter e meu Facebook. Não por acaso, o ritmo de posts caiu vertiginosamente com o surgimento dos dois.

A seguir, algumas curiosidades que talvez não interessem nem aos meus queridos (e infiéis) 17 leitores, mas, azar, o blog é meu, e eu falo aqui o que bem entender:
  • O motivo pelo qual o terceiro post (que não tem simpatia nenhuma) faz tanto sucesso são as buscas do Google! As cinco pesquisas que mais trazem as pessoas para cá, desde que voltei para este endereço, no ano passado, são: 
    • cassia
    • amiga de infância
    • simpatias para jenro (sic) gostar de sogra
    • origem do nome montevideo
    • bufê
Em dois meses faço 40 anos. Parece estranho uma quarentona fazendo um blog com ar aborrescente reclamão, né? Enfim. Tenho pena de acabar com ele. Seria como acabar com parte de mim.

Entonces, sigamos espatifando – ainda que eventualmente –, por muitas e muitas décadas :-) 

sábado, 7 de dezembro de 2013

Vos me haces feliz, hacés el mundo brillar

O show do Fito Paez a que assistimos ontem no Araújo Viana foi um dos shows mais intensos que vi nos últimos tempos. Desde o nascimento da Lina, nenhuma manifestação artística (livro, disco, show ou filme) havia conseguido me afastar do caráter monotemático da minha vida de mãe.

Em determinado momento, uma música me encanta. A letra me emociona, e quase no final eu pergunto pro Márcio:

– Margarita é mulher dele?

– Não, é filha.

<3

Margarita

Yo soy tan feliz cuando te despertás 
Vos me haces feliz, hacés el mundo brillar 
Yo me quiero ir a la luna con vos. 

Vos me hacés feliz 
Sabés amar y jugar 
Vos me hacés reír 
Me hacés sentir fugaz 
Yo me quiero ir a la luna con vos. 

Hay que subirse a un caballo con alas 
Y creer fuerte con el corazón 
Y las libélulas amarillas 
Nos abrirán los laberintos que nos lleven al sol 
Yo quiero estar ahí con vos 
Vos me hacés feliz 
Margarita, mi amor 
Vos me hacés reír 

Te hago reír a vos 
Si hay para comer lo dividimos en dos 
Vamos a vivir abrazados, mi amor 

Que viva el mundo y viva la vida 
Vivan las voces y la emoción 
Ésto te quiero dejar, Margarita 
Y que vayas abriendo el mundo como una flor 
Yo voy estar ahí con vos 
Puedo ser feliz 
Me hacés feliz 
Me hacés reír 
Me hacés feliz 
Totalmente feliz.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

E o mundo se divide entre batmans e barbies...

PB Kids do Barra Shopping Sul hoje à tarde.
– Moço, tem velocípede?
– Como?
– Triciclo? Para criança pequena.
– Tem aqueles, com motor.
(...)
– Não, de pedal, mesmo.
– Menino ou menina?
– Menina, mas tanto faz.
– Então tem da Barbie.
– E pra menino?
– Daí é do Batman. Quer ver?
– Sem personagem, não tem?
– Não.

domingo, 24 de novembro de 2013

Fazendo arte

Nossa pequena, com 1 ano e sete meses completados no último dia 12, começa a deixar bem claro a que veio nesta vida. Que tem senso de humor, sabemos desde que ela deu os primeiros sorrisos que eram mais do que meros reflexos espasmódicos, lá nas primeiras semanas de existência. De uns tempos para cá, porém, ela tem inventado brincadeiras. Para a coisa não se perder na memória dos pais, achei por bem registrar algumas.


Banda de balde
  • Brincadeira: Todo mundo tossindo! Como funciona: Márcio tosse. Lina "tosse". Lina aponta para a mãe, "tosse" e não sossega enquanto a mãe não "tosse". Lina aponta para o pai, que "tosse" de novo. Lina aponta para a Farofa e o Bubi, que não tossem, mas ela não se abala, "tosse" e volta a apontar para o pai, para a mãe... repetir até alguma outra coisa atrair a atenção da Lina, a inventora e dona da brincadeira.
  • Brincadeira: Banda de balde. Como funciona: Lina tira todos os brinquedos que ficam dentro do balde que fica na sala da casa. Um por um. Lina bota todos, cuidadosamente em cima do sofá. Lina entra no balde, senta e fica esperando alguém dar atenção. Pai e mãe acham fofo, tiram fotos, e depois carregam a Lina de balde-liteira pela sala. Lina sai do balde e guarda todos os brinquedos de volta. Muito divertido...
  • Brincadeira: Cara de braba. Como funciona: Lina tenta fazer alguma coisa que não deve. Mãe não deixa. Lina faz uma "cara de braba" e se estica toda, contrariada. Mãe ri. Lina encabula e finge que a "cara de braba" é uma brincadeira e não sossega enquanto a mãe não imita. Lina faz sinal para o pai imitar. Para a Cláudia, que trabalha em casa, imitar. Para a avó imitar. "Cara de braba" tem feito muito sucesso ultimamente. 
  • Brincadeira: Aumenta o som! Como funciona: Papai chega do trabalho e põe um som para a Lina dançar enquanto a mãe prepara o jantar. Qualquer que seja a música, Lina vai até o som e aumenta MUITO o volume. Olha para o pai e a mãe à espera de aprovação e dança. Os vizinhos devem adorar.
  • Brincadeira: Colheres ao léu. Como funciona: Vovó/mamãe/papai está na cozinha. Lina entra sorrateiramente e abre a gaveta dos talheres. Tira as colheres de café e chá uma a uma e espalha pelo chão, fazendo muito barulho. Depois, ajuda a juntar e a botar dentro da gaveta de novo. Fim. 
  • Brincadeira: Chuva no banheiro. Como funciona: Vovó leva a Lina para "abámão" no banheiro. Em cima do banquinho, Lina começa a lavar as mãos. Lina segura o jato d'água na torneira e espalha água por tudo. Vovó ri. Lina ri. Mamãe agora não sabe como fazer a Lina lavar as mãos sem o aguaceiro.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Mudança de rumos

Há alguns dias, dois amigos comentaram comigo como sou má em meus comentários nas redes sociais. Hoje, uma deles viu tristeza nos meus olhos. Aquela grande ficha acertou a minha testa e deixou muito claro: as duas coisas evidentemente estão relacionadas.

Com licença, então, para a imprescindível mudança de rumo. Quem tem a filha e a família e o trabalho que eu tenho, não tem direito de ser má ou triste.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Do perigo das generalizações

Daí que a gente generaliza e fere quem não precisaria/deveria ferir. Tenho MUITOS amigos e MUITA gente que eu admiro dentro da RBS. Gente séria, que faz jornalismo sério, que faz trabalho sério nas mais diferentes áreas, que luta pelo que acredita, que briga contra o que discorda, que se esgualepa para trabalhar demais com recursos de menos. E me dói o estômago e o coração pensar que essas pessoas se sintam atingidas pelos meus comentários ácidos (azedos?) sobre os rumos da firma que agora decidiu também vender batom para tentar sobreviver num mundo que tem cada vez mais dificuldade de entender.

Eu tento não falar mais no assunto, mas é difícil. Quase duas décadas de relacionamento a gente não consegue deixar pra lá tão facilmente assim. Só que o tiro acaba saindo pela culatra. Porque as pessoas a quem eu critico provavelmente não leem o que escrevo. E, se leem, debocham, como se eu fosse a recalcada, "miserável" por não ser aceita lá dentro. E, olha, posso garantir que não é o caso. Pelo menos se estar lá dentro significasse reviver os dois últimos anos que vivi. Não sou saudosista, mas me ofereçam o que tive na RBS até 2010, e tô dentro! Com todas as críticas que eu podia já ter na época (chata eu sempre fui).

Então, quero deixar claro que os bravos colegas que seguem lá dentro (dentre os quais tenho vários amigos) são de certa forma meus ídolos. Porque requer coragem e força seguir dentro de uma estrutura tão complicada sem se deixar afetar pessoalmente, mantendo a sanidade e o profissionalismo. Coragem e força que eu deixei de ter. Que eu decidi canalizar para outras coisas.

Lembro de ler posts reclamões como os meus quando estava dentro da RBS e pensar muitas vezes que era recalque de quem tinha saído de mal com a empresa. Que era feio, que era falta de respeito com com estava lá dentro. Mas hoje, juro, eu falo como cidadã gaúcha/brasileira e jornalista de alma que está triste, triste, triste, muito triste, com o que está acontecendo com a principal empresa de comunicação do Estado.

*

Gente... vender batom? :-(

sábado, 19 de outubro de 2013

E se?

Não são poucas as coisas que nos fazem pensar "e se?". Reencontrar pessoas que não víamos havia muito é uma delas. Completar datas redondas, outra. Deparar com objetos, textos, fotos de tempos passados, em que éramos outra versão de nós mesmos, ainda outra. Ver uma pessoa querida passar por uma situação difícil por que já passamos, também. Nas últimas semanas, tive todos esses gatilhos sendo disparados ao meu redor. Como resultado, passei alguns dias sendo assombrada por vários "e ses" que me surgiam de repente, antes de acordar, antes de dormir, ao ouvir uma música, na hora do banho, almoçando, dirigindo...

E se meu pai não tivesse morrido três dias depois de eu completar 22 anos?

E se eu tivesse feito Letras em vez de Jornalismo?

E se eu tivesse sido mais pragmática em relação à minha carreira corporativa?

E se eu não tivesse aceitado continuar com o Márcio depois dele pegar o primeiro cachorro das nossas vidas?

E se eu tivesse tido coragem de me despedir do meu pai quando soube que ele estava morrendo?

E se a gente não tivesse voltado de São Paulo em 1990?

E se eu não tivesse pedido demissão da TV, do Jornal, do Terra...?

E se eu não tivesse vendido meu carro em 2001?

E se eu tivesse feito uma dieta de verdade logo depois de engordar 12 quilos em 2000?

E se eu tivesse deixado os cabelos crescer e pintado de loiro?

E se a gente não tivesse voltado de São Paulo em 2003?

Essa porção de questionamentos estava me incomodando, me dando um aperto no peito, me deixando aflita. E eu não estava sequer conseguindo identificar por quê. Ontem à noite, tudo se esclareceu. Ao ver minha filha brincando feliz na casa de um velho amigo, percebi que as respostas para essas dúvidas não têm mais importância alguma. O que vale foi o que aconteceu. E o que está por acontecer. Com todos os "e ses" que ainda surgirão e ficarão pelo caminho.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

De novo os médicos (ainda sem ninguém ter me perguntado)

Uma das coisas que mais me incomoda como cidadã pagadora de impostos é que muitos dos médicos que estão indignados com a vinda de médicos estrangeiros para o país para ocupar vagas em locais aonde eles se negam a ir se formaram (e se formam) às MINHAS custas, fazendo cursos de alta qualidade em universidades PÚBLICAS totalmente financiados pelo MEU dinheiro e acham que um ou dois anos de residência para o SUS bastam como contrapartida antes de abrir um consultório particular.

Muitos desses mesmos médicos que hostilizam aqueles que se dispuseram a trabalhar nos nossos grotões, mesmo sem infraestrutura, adoram bradar aos quatro ventos que os recursos estão sendo mal utilizados. Nesse ponto eu concordo! Uma das péssimas utilizações de impostos é justamente formar esse tipo de gente.

Sugestão de pauta aos coleguinhas da imprensa: alguém bem podia fazer o cálculo de quantos postos de saúde poderiam ter sido construídos e equipados com o dinheiro público utilizado para formar, digamos, nos últimos dez anos, "doutores" que tenham saído diretamente da formação pública (cujas famílias de classe média alta teriam tido plenas condições de bancar) para o exercício da medicina que trata paciente como "cliente".

Algo me diz que essa cifra não seria baixa, mesmo restringindo o grupo analisado apenas aos "doutores" oriundos das classes mais altas do país.

*

PS necessário: Eu tenho médicos ótimos. Amo todos eles. DUVIDO que algum deles se prestaria ao papel absurdo desses que estão hostilizando os médicos estrangeiros. Podem até ser contra as medidas, mas esse tipo de atitude baixa eu SEI que eles não teriam!

domingo, 25 de agosto de 2013

Dois anos e (os primeiros) 500 dias com ela

O Márcio Pinheiro e eu nunca vamos nos esquecer que 25 de agosto de 2011 caiu numa quinta-feira. Foi a quinta-feira mais emocionante que vivemos até então. Foi o dia em que descobrimos que estávamos grávidos de cinco semanas da nossa pitoca. Ainda não fazíamos ideia se seria menina, menino, um, dois ou três, mas sabíamos que estávamos felizes, muito, muito felizes.

 Achávamos que aquela seria a quinta-feira mais feliz da nossa vida. Até a quinta-feira 12 de abril de 2012, quando a Lina estreou neste mundo, exatos 500 dias atrás. Passados esses 500 dias, percebemos que fica cada vez mais difícil medir os dias como sendo "os mais felizes", porque cada nova quinta-feira (ou cada dia) ao lado da nossa pequena é uma das melhores coisas do mundo.

Obrigada, universo, por botar esta pequena nas nossas vidas!

O retrato da faceirice na comemoração, à noite

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Modelo moribundo

Fazia tanto tempo que não lia nenhuma das revistas que foram fechadas hoje pela editora Abril que eu nem sei se me espanto. Lamento pelos colegas jornalistas que perderam seus empregos, mas não sei se ainda lamento as sucessivas derrotas das grandes empresas de mídia que não souberam nem estão sabendo entender o novo mundo. Seus donos parecem surdos e cegos ao que está acontecendo, preferindo seguir acreditando no modelo tradicional.

É evidente que eu não tenho a resposta do que é o novo modelo. Mas eu não sou dona de nenhuma empresa de mídia. Lamento que que são donos sigam sem aprender o que precisariam aprender para sobreviver. Como indivíduo, acho que descobri meu caminho. Mas, certamente, se dona de empresa de mídia eu fosse, certamente estaria procurando novos caminhos, e não administrando a empresa como se fosse um quiosque de balas.

Uma única aposta eu posso fazer: cobrar pelo conteúdo online definitivamente não é o caminho!

terça-feira, 9 de julho de 2013

Dos médicos (ou pitaco que não me pediram pra dar)

Meus amigos médicos e meus médicos amigos que me perdoem, mas os melhores médicos que vi e vejo atuar na minha vida não precisaram ou precisam de exames sofisticados para identificar (ou ao menos sinalizar) problemas, estimular a prevenção ou tratar ou tranquilizar pacientes. Os médicos que não olham, não tocam e não ouvem seus pacientes devem mesmo se ressentir da falta de infraestrutura de exames e tratamentos complexos, mas não é óbvio para todo mundo o que a maioria das pessoas que vive nos grotões sem médicos do país precisa é de alguém que tenha o conhecimento e a sensibilidade para identificar a necessidade de um atendimento mais especializado? Daí, sim, pode gritar à vontade contra infraestrutura. Mas, primeiro, que tal ouvir, ver e sentir os pacientes?

Eu não tenho dúvidas de que num lugar em que não há NENHUMA assistência médica, um "doutor" recém formado com foco nas pessoas é infinitamente melhor do que nada. Nem que seja para gritar. Não fosse assim, os Médicos Sem Fronteiras não teriam razão de ser. A discussão toda está muito na exceção. Não sei quase nada de prática clínica, mas minha experiência como hipocondríaca me faz duvidar que todo paciente precise realizar exames clínicos ou radiológicos para ser diagnosticado.

Enquanto olharmos para o problema do interiorzão do nosso país com nosso olhar urbano, vai ser difícil prescindir de médicos cubanos...

*

Pesquisei o juramento de Hipócrates e achei o verbete na Wikipedia. Se está certo o que diz lá, muita gente esqueceu de fazê-lo ou não prestou atenção no que disse: "Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra. Nunca me servirei da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu para sempre a minha vida e a minha arte com boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o contrário".

terça-feira, 4 de junho de 2013

Maria, a baleira

Maria é baleira. Desde pequena, por gostar muito de mexer com açúcar, dizia que seria baleira, apesar de muita gente insistir com ela que seria uma furada. "Baleiro no Brasil ganha muito mal!" Mas não adiantou. Ela ganhou apoio do pai – um advogado que sonhava secretamente se tornar baleiro –, fez a faculdade de balismo e, aos 21 anos, estava formada e empregada na maior fábrica de balas do estado onde morava.

Doze anos depois de formada, Maria estava satisfeita com os rumos da carreira, mas não aguentava mais ganhar tão mal. Para aumentar a renda, ela fazia trabalhos paralelos como boleira. Fazer bolos era parecido com fazer balas, mas pagava melhor – e ela podia fazer de casa. Como estava sempre reclamando dos equipamentos feitos dentro da empresa para fazer balas e era cheia de opinião, Maria foi transferida para a área que produzia esses equipamentos. Lá, ela ia funcionar como uma espécie de "meio de campo" entre as duas áreas.

Maria ralou muito, aprendeu muito, chorou muito de saudade de suas balas e seus colegas baleiros. Mas Maria gostou da mudança. Ela não mexia mais com açúcar na firma, mas compensava essa ausência trabalhando com seus bolos. Não fazia mais pelo dinheiro, porque o salário de quem fabrica equipamentos é bem melhor do que quem os utiliza para criar (o que ela achava uma injustiça), mas achava que fazer bolos era um plano B decente.

Aliás, Maria nunca se conformou com o fato de que o marido e os amigos baleiros – muitos dos quais com anos e anos de carreira – tinham salários equivalentes ao de jovens recém-formados e muito crus de sua área. Infelizmente, sabia que se tratava da lei do mercado. O que fazer se aquela era praticamente a única fábrica de balas do estado e apenas uma de muitas opções de empresas para os profissionais da sua nova área? Fazia sentido que a fábrica de balas pagasse mais para os técnicos do que para os verdadeiros produtores daquilo que fazia o sucesso da empresa: as balas.

Nessa função, Maria teve ótimos colegas e um excelente chefe, que entendia da importância das balas e dos baleiros para a empresa e trabalhava com ética e justiça. Um dia, esse chefe foi promovido, e Maria assumiu a função dele interinamente. Sempre soube que não passaria de interina. Não tinha vocação para gestão e reconhecia lhe faltar a maturidade que o cargo exigia (apaixonada, Maria tinha a péssima mania de ser transparente em suas ideias e indignações).

Depois da experiência que teve com o chefe bacana (que foi promovido para outra área), Maria tinha altas expectativas quanto ao substituto dele. Daí o grande espanto da Maria quando a diretora da área a chamou para dizer que seu novo chefe dela seria o trainee da diretora. O mesmo que até a semana anterior era descrito como "o menino que serve café".

(Continua...)

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Do peso do que publicamos no éter

Um dos trabalhos que mais gostei de fazer dentro da RBS foi a "evangelização" sobre redes sociais. Eu e a querida Bárbara Nickel percorremos (se não me engano, em 2009) várias áreas da empresa com o objetivo de – mais do que orientar sobre como utilizar twitter, Facebook e quetais –, convencer o pessoal de como o uso dessas ferramentas era algo absolutamente inevitável (e importante) para profissionais de uma empresa de comunicação. Ao contrário do sistema de vídeo Betamax, do fax e do Second Life, as redes sociais virtuais – quaisquer que sejam ou venham a ser – vieram para ficar.

Com o tempo, nossas apresentações começaram a ficar parecidas com jograis. Já tínhamos até piadas que sabíamos que funcionavam e a manha de levantar a bola uma para a outra no momento certo. Uma das falas que sempre cabia a mim era sobre a "noção" necessária na hora de postar qualquer coisa numa rede social. Porque por mais que pareça óbvio, percebi que nem todo mundo compreendia essa obviedade. O que postamos nas nossas páginas nas redes sociais (ou em qualquer coisa na internet) fica carimbado na gente. Se não para sempre, por um bom tempo.

Para ser clara no recado, eu dizia com todas as letras: quando recebia o currículo de alguém que achava interessante, antes de marcar a entrevista eu cruzava o nome da criatura com o nome da empresa. Aparecia o ser humano falando mal da empresa, esculhambando o que fazíamos lá dentro? Nem chamava pra entrevista. Lembro que muita gente ficava espantada com essa minha afirmação. Provavelmente as mesmas pessoas que achavam injusto alguém ser demitido por falar mal do empregador nas redes sociais.

Gente, não é óbvio? Se eu tenho algum desejo – por mais remoto que seja – de trabalhar em algum lugar, eu vou postar publicamente alguma coisa desabonadora? Não, né?

Daí que, assim, ó... pessoal que foi meu colega e continua dentro da RBS e curtiu ou comentou publicamente meu "post-catarse" sobre o fim do meu relacionamento com a empresa da forma como ela está hoje, fica a dica: vai lá e apaga. Pode pegar mal. O post teve mais de 1.500 views. Estou literalmente besta com o alcance dessa tal de internê. Se soubesse, tinha anunciado meus serviços de tradução naquele post.

Vai lá e apaga. É sério. Me manda mensagem privada. :-)

sábado, 25 de maio de 2013

Da arte de fechar as portas certas (um post-catarse)

Não é nem uma questão de guardar rancor, de pensar muito nisso. Eu realmente não penso, porque tudo perdeu a importância com o rumo que a minha vida tomou nos últimos 22 meses. É uma questão de não ter feito o que deveria ter sido feito desde o começo. Foi uma matéria banal sobre um assunto banal que detonou hoje em mim um processo de reavaliação de atitudes profissionais que tomei nos meus dois últimos anos dentro de uma empresa. No caso, dentro do Grupo RBS.

Esta matéria sobre demissões em massa e más condições de trabalho na Livraria Cultura me fez postar o seguinte no Facebook enquanto estava na fila do banco para pagar meu IPVA:
Se todo mundo que trabalha em empresas abusivas tiver coragem de se manifestar, talvez as empresas parem de jogar hipocritamente para a torcida e os funcionários que seguem lá dentro aprendam que é falta de civismo se submeter e jogar o jogo do contente dos patrões. Que é covardia, pura e simples.
Lendo esta matéria, fiquei com vergonha de mim mesma por me manter calada sobre tudo o que vi e vivi nos meus dois últimos anos na RBS, por medo de ficar com fama de recalcada ou "fechar portas". Só que ao estar sendo respeitada por todos meus clientes atuais, estou cada vez mais convencida de que algumas portas é melhor fechar mesmo. E daqui de fora.
Entre junho de 2010 e agosto de 2011, passei por situações surreais dentro daquela empresa cuja camiseta vesti por quase 15 anos, em três passagens por várias posições diferentes. Foi onde conheci o meu marido, foi onde cresci profissionalmente, onde fiz grandes amizades e aprendi muito com grandes colegas, chefes e conhecidos. Foi onde fiz parte de equipes que realizaram coisas bacanérrimas. Onde trabalhei com pessoas queridas que ainda estão lá dentro – ou não. É uma empresa pela qual inevitavelmente eu sempre terei carinho.

E eu fiquei com vergonha de mim mesma ao ler a matéria sobre a Cultura (em que alguns funcionários saíram atirando) porque mesmo depois das coisas que eu ouvi e a que fui submetida (ou me submeti?), eu saí na boa. Eu saí sorrindo. Eu saí agradecendo o aprendizado. E nada disso foi hipócrita da minha parte. Porque eu realmente fiquei feliz de sair e realmente agradeci o aprendizado – inclusive e principalmente o aprendizado proporcionado por esses quase dois anos de abuso e assédio moral que sofri. 

Não, ninguém gritou comigo. (Se alguém gritava era eu, com essa mania de me posicionar diante de injustiças.) Foi tudo muito gentil, muito civilizado. Foi tudo comme il faut. Mas foi um processo que fez com que eu me sentisse menos tudo. Menos inteligente, menos capaz, menos gentil, menos humana, menos sã. Eu voltei para a terapia. Eu tive crises de pânico. Eu achei que tinha feito tudo errado desde sempre ao defender o que eu acreditava. Eu cheguei, vejam só, a acreditar que queria uma carreira corporativa. Logo eu, de todas as pessoas...

Eu devia ter saído quando recebi um feedback que me doeu como uma punhalada:

"Um dos problemas, Cássia, é que tu não aprendeu ainda que gestor não pode trabalhar para os subordinados ou para os colegas. Gestor tem que trabalhar para a direção da empresa."

Na mesma reunião de feedback, fui criticada porque as pessoas da equipe a que eu pertencia viam a mim como líder, e não ao gestor que era o líder de direito. "Tu precisas transferir esta liderança." Como se isso fosse possível.

Mas eu não saí. Eu me acovardei. E eu (quase) me convenci de que a errada era eu. Porque havia tanta coisa bacana sendo feita por tanta gente bacana. A empresa era mais do que aquela pessoa que me disse isso. E olha que estas foram apenas duas das muitas frases absurdas que eu ouvi nesse período e que eu me ressinto de não ter gravado. Porque foram frases que me parecem mais e mais inverossímeis a cada vez que eu me lembro de cada uma delas. Se não tivessem sito ditas para mim, juro que não acreditaria.

Então veio a Lina, e tudo foi perdendo a importância. Foi como se com o resultado positivo do exame de gravidez todas as coisas que eu ouvi e vivi entre junho de 2010 e agosto de 2011 simplesmente desaparecessem. Minha vida ganhou "novos desafios" reais, e eles me fizeram rever o que realmente era importante para mim. Nos sete meses que me dediquei a cuidar da minha filha, eu vi que não sentia falta de nada da firma. Nada. Nem do trabalho de que eu tanto gostei durante tanto tempo. E as pessoas? Ora, as importantes continuariam (como continuam) fazendo parte da minha vida. Então, me preparei para sair. E marquei uma data. Eu sairia no dia 1º de janeiro de 2013. Mas tive sorte. Me saíram antes. A firma também não sentiu a minha falta.

Por que escrevo este imenso post agora? Porque eu precisava disso. A leveza que estou sentindo ao começar este parágrafo mostra que, mesmo que eu não estivesse pensando nisso tudo desde que soube da gravidez, estava tudo arquivado em alguma gaveta mental, que esta matéria sobre a Livraria Cultura que li na fila do Banrisul abriu. 

Sempre achei e continuo achando feio sair de um emprego batendo a porta. Mas não acho que seja isto que eu estou fazendo. Não é a porta da RBS que eu estou fechando, é a porta para esta face da RBS que eu conheci entre junho de 2010 e agosto de 2011 que eu não quero nunca mais abrir. Não enquanto a empresa tratar jornalista como profissional de segunda linha e defender (sim, eu também ouvi isso) que o negócio para a empresa sobreviver é "focar na comunicação e não mais no jornalismo", o que quer que isso queira dizer. 

Tem gente que fala em processo trabalhista por assédio moral. Não é o caso. Eu me sinto um pouco como aquela mulher que apanha do marido e se cala porque acha que merece apanhar. Sabe Deus por que, entre junho de 2010 e agosto de 2011 eu achava que merecia estar ouvindo o que ouvi, estar tendo de fazer o que estava sendo orientada a fazer. Eu me violentei muitas vezes, mas tudo passou. Quem sabe um dia não transformo tudo num livro, num roteiro, ou, sei lá, em mais posts de blog. Pelo menos vai ser divertido de escrever e, espero, de ler.

Eu não tenho mágoas. Juro. Acho ótimo que exista gente que consegue ser feliz com o tipo de vida que eu não consigo querer para mim. Acho normal que haja quem se sinta confortável fazendo o que eu abomino fazer. Faz parte do jogo. Não sei quem está certo ou errado. Só sei que eu e a RBS que eu deixei somos erradas uma para a outra. 

Luz e paz! :-)

sexta-feira, 12 de abril de 2013

O melhor ano da minha vida


Foi aos cinco minutos de 12 de abril de 2012 que começou o melhor ano da minha vida. Nesse instante, senti a primeira contração da gravidez de 37 semanas. A médica tinha dito no dia anterior que elas começariam em breve e poderiam me acompanhar por até duas semanas ou mais. Só que a guriazinha parecia estar tão ansiosa como nós para fazer as devidas apresentações e decidiu que chegava de esperar. Precisamente três horas e vinte e um minutos depois dessa primeira contração, a Lina nascia diante de um pai perplexo com a própria coragem (ele não queria sequer ficar atrás da cortininha da cesárea, mas acabou acompanhando de perto e sem barreiras um parto normal "de livro") e de uma mãe orgulhosa do marido corajoso e agradecida pela natureza ter sido tão generosa ao lhe permitir parir com tanta tranquilidade (mesmo aos 38 anos e com diabetes gestacional).

– Arrá! Ela é linda! É linda de verdade! – gritou o Márcio, quando ela veio para o meu colo.

Redondinha, rosadinha, linda. Nossa filha. Nossa Lina. Que levamos quase uma década para conceber e que chegou a este mundo cheia de saúde. E linda. De verdade, não só aos nossos olhos de pais. (Ambos havíamos nos comprometido a dizer que era ela linda, mesmo que nascesse um bichinho de goiaba.)

Ao fundo, tocava "Abba para bebês". Porque, não, a não havíamos levado o iPod com a playlist de versões diferentes de Isn't She Lovely, do Stevie Wonder, selecionadas para tocar na hora do parto. Também não, não havíamos levado as malas, porque eu tinha tirado tudo de dentro delas no dia anterior para reorganizar naquele final de semana e, quando saímos de casa, pouco depois da meia-noite e meia, eu disse para o Márcio que o parto levaria pelo menos 12 horas (de onde eu tirei isso???), e a minha mãe poderia ir buscar tudo naquela manhã, com calma. Assim, pouco tempo depois do nascimento da pitoca, fomos transferidos os três juntos para uma sala de recuperação (ainda não havia leitos disponíveis) com a Lina envolta em cueiros do hospital, e a minha mãe e a minha irmã atravessaram a cidade no meio da madrugada para buscar o que os pais deveriam ter levado ("Como assim, tu foi pra maternidade sem as malas?" foi uma das perguntas que mais ouvi neste último ano).

O filho que demorou tanto a vir havia chegado finalmente. Era uma menina. Era linda. Era a Lina.

Ali comecei a me preocupar (bem pouquinho, é verdade) de que poderia estar sofrendo de algum transtorno do tipo "euforia pós-parto". Aquela alegria toda era normal? Aquela sensação de que eu era capaz de qualquer coisa, de que a vida era linda e cor-de-rosa era provocada pelos hormônios? Tinha de ser. Não era para algo tão sereno e bom que eu vinha me preparando ("Aproveitem para dormir agora, porque depois..." foi uma das observações que mais ouvi ao longo da gravidez.)

Hoje, começo a ter quase certeza de não era transtorno algum. Passado um ano, aqui estou eu, ainda encantada com tudo que tem a ver com a nossa filha. A minha menina. As pessoas dizem que fiquei mais bonita depois de ser mãe, e eu nem encabulo. É verdade, fiquei mesmo. E sei que estou me tornando uma pessoa melhor, e o mérito é todinho dela. Dessa menina encantadora, observadora, alegre e cheia de personalidade que está deixando claro que quanto mais amor sentimos, mais amor somos capazes de sentir.

E nós, que já havíamos nos convencido de que uma vida sem filhos não seria algo ruim – somos bons amigos um do outro, temos amigos queridos, temos interesses e gostos que nos preenchiam os dias satisfatoriamente – percebemos que não conseguimos nos lembrar de como era a vida sem ela. Continuo achando que nossa vida sem filhos não seria algo ruim, mas tenho cada dia mais certeza de que, com ela, é infinitamente melhor.

Por mais que ela tenha os olhos do Márcio e as minhas bochechas, a Lina já é a Lina. Ela gosta de comer (como nós dois), gosta de dar risada de graça (como eu), gosta de observar (como o pai). Também como nós, gosta de gente, de rua, de música... Meu Deus, como gosta de música! E embora possa parecer, não sou daquelas mães que veem o tempo todo talentos e habilidades especiais nos seus rebentos. Acho a Lina encantadora e adorável em sua absoluta normalidade. Não fez nada adiantado em relação à idade, e parece ter lido um livro sobre "o crescimento dos bebês" antes de nascer, porque vem fazendo tudo como manda o roteiro.

Se eu puder desejar apenas duas coisas é que (1) ela consiga manter essa serenidade que vem de não sei onde diante das vicissitudes inevitáveis da vida. E que (2) essas vicissitudes lhe sejam suaves. E se tem uma única coisa que espero definitivamente que consigamos fazer ao longo dos próximos anos é não atrapalhar, poder ajudá-la a percorrer os caminhos sem prejudicar a essência dela.

Hoje faz um ano que começou o melhor ano da minha vida - até agora.

Feliz aniversário, filha amada. Te amo muito e cada vez mais.

Mãe.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Dos planos de maternidade e dos planos depois da maternidade

Não consigo nem imaginar a cara que eu faria se alguém me dissesse, em 1992, quando eu estava entrando na faculdade, que dali a vinte anos (e só dali a vinte anos) eu teria uma filha e daria graças aos céus quando fosse desligada da empresa em que estava num cargo bacana, fazendo um trabalho de que eu gostava com gente querida e ganhando um belo salário no dia da volta da licença maternidade. Primeiro, porque eu sempre "soube" que seria mãe aos 28 anos (em 2002, portanto). Segundo, porque os planos desde a adolescência (porque nunca cogitei de não ser mãe) eram ser uma working mom moderna, daquelas que tem apenas duas horas por dia para dedicar ao filho, mas que as dedica ao máximo. Ponto.

Daí vieram os tais 28 anos, e a gente estava de mudança para São Paulo. E eu nunca que teria filhos em São Paulo. Aos 30, quando voltamos, retomamos o projeto. Mas, como as coisas nem sempre (ou quase nunca?) saem como planejamos, o filho não vinha nunca. E daí que nos oito anos seguintes a gente mudou de emprego, comprou casa nova, viajou, fez novos amigos, fez tratamento que não deu certo, trocou de médico, trocou de carro, viajou, fez mais novos amigos, fez mais tratamento que não deu certo, chorou, desistiu de ter filho, invejou amigos com filhos, sofreu a morte de um cachorro velhinho, adotou uma nova cachorrinha.

Aos 37 anos, depois de muita conversa e de conscientização de que viver sem filhos não seria o fim do mundo, afinal, decidimos que faríamos uma última tentativa. Eis que essa "última tentativa" está engatinhando aqui do meu lado, faceira, faceira, às vésperas de completar 11 meses. E eu estou escrevendo este post correndo, porque preciso retomar a revisão de um trabalho que preciso/quero entregar ainda hoje. Como, felizmente (hoje posso dizer isso), os planos de ser mãe aos 28 deram errado, tive a possibilidade de consolidar uma carreira de tradutora em paralelo à de jornalista, quase que por diletantismo. E a carreira paralela virou carreira principal. E todos estamos vivendo felizes para sempre até o próximo imprevisto.

Porque o maior aprendizado de tudo isso foi que planejar toma tempo demais da vida que a gente poderia estar vivendo. E que fazer o que não nos dá muita paixão apenas pela grana não vale a pena.

PS.: Decidi escrever este texto depois de ler um dos posts da blogagem coletiva proposta pelo blog Mamatraca, no SuperDuper. Fugi um pouco do tema, mas espero não ser eliminada por isso ;-)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Diga-me com quem andas...


Vou dormir triste, com o coração pesado por conta da absurda tragédia que matou mais de 230 guris em Santa Maria. Mas não posso deixar de me sentir satisfeita pelo comportamento da minha timeline no Facebook. A julgar pelos posts que apareceram para mim, fotos de mortos, mensagens de fanáticos religiosos e piadas despropositadas são apenas relatos de outras pessoas.

Pena que ainda haja quem insista em criticar a tecnologia - e não a própria incompetência em selecionar com quem anda no mundo virtual - pelos males do mundo.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Lista de resoluções

Tem gente que faz todo ano. Tem gente que faz todo aniversário. Eu faço toda vez que entrego uma tradução grande, que me deu mais trabalho do que eu havia imaginado - e eu sempre subestimo o trabalho (ou me superestimo, não sei bem). Sempre que clico enviar no e-mail para o editor, eu faço uma nova lista de resoluções. São resoluções de fim de tradução.

  • Vou ler o jornal todos os dias antes de começar a traduzir, porque senão eu não leio mais.
  • Vou traduzir todos os dias todas as páginas planejadas inicialmente para cumprir o prazo. 
  • Vou cumprir os prazos. Melhor, vou entregar os trabalhos ANTES dos prazos.
  • Vou entrar nas redes sociais só duas (três, vá lá) vezes por dia.
  • Vou parar de trabalhar às 18h em ponto.
  • Vou traduzir só em dias úteis.
Esta lista se repete - mentalmente - há anos. Na verdade, esta especificamente é uma estreia. Não apenas é a primeira que escrevo, mas, pela primeira vez desde 1999, não preciso me preocupar em onde encaixar a tradução na minha rotina de funcionária/jornalista. Algo me diz que, pela primeira vez, as resoluções estão muito, muito perto de serem todas cumpridas.

Boa sorte para mim!

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Fim de um ano, começo de outro e muitas estreias

O fim de semana foi cheio de novidades. Não foi apenas a primeira virada de ano que a Lina viveu de ontem para a hoje.

  • primeira viagem de carro na companhia dos "manos" caninos
  • primeira troca de fralda na beira da estrada
  • primeira parada em boteco de beira de estrada para os pais comerem um pastel para não morrerem de fome por causa do trânsito trancado
  • primeiro pé na areia
  • primeiro banho de mar
  • primeiro (segundo, terceiro e quarto) banho de chuveiro com o papai e a mamãe
  • primeiro churrasco em família sentadinha na cadeira de pendurar na mesa
  • primeira manhã à beira-mar (com direito a maiô de babadinho, baldinho e bolacha maria coberta de areia)
  • primeiro cappelini à bolonhesa da mamãe
O tamanho da lista de novas emoções é grande e explica a agitação da pequena na hora de dormir, há pouco. Amanhã vamos passar o dia em casa, processando tanta informação, antes de retomar a rotina, que a pitoca tanto aprecia.