O dia se espatifa: julho 2006

domingo, 30 de julho de 2006

Cego e banguela

Este blog sofre com uma eterna crise de identidade. Digo sempre que é algo para não se levar nem ser levado a sério. Mas às vezes escorrego e acabo falando de coisas importantes. Sempre sem a profundidade necessária, é verdade. Mas funciona como uma espécie de desabafo. Afinal, é o espaço que me cabe nesse latifúndio, onde posso dizer o que penso e assinar embaixo.

Não tenho uma opinião formada sobre isto. E isso é estranho. Porque acho importante me posicionar sobre quase tudo. Uma característica, reconheço, que é parte do que me faz chata. Só sei que quando vejo coisas como estas, volto a ter oito anos de idade e sinto vontade de chorar, porque não acredito que se possa ser pragmático nem escolher lados quando há vidas em jogo.

Quando leio coisas como esta, eu me sinto burra, muito burra, porque não consigo entender por quê. Entender sim, compreender, nunca. Viro a Mafalda olhando desesperançada para o globo e sonhando em ser tradutora na ONU para distorcer só um pouquinho os absurdos ditos pelos chefes de Estado, tornando-os mais sensatos.

Quando passo duas semanas trabalhando com este tipo de informação, eu me dou conta de que a minha casca não endureceu o quanto poderia. Ainda que a minha sensibilidade não esteja mais tão afinada como deveria. E fica tocando na minha cabeça como um mantra uma frase do Gandhi que eu costumava escrever na primeira folha de todos os meus cadernos de História no colégio:
Olho por olho, dente por dente, e o mundo acabará cego e banguela.

sexta-feira, 28 de julho de 2006

Mania de gourmet

Acho até que já escrevi que tenho pavor de restaurante de bufê a quilo em que não se consegue comer uma salada simples, de alface, agrião e tomate, por exemplo. Dono de bufê a quilo que insiste em tascar morango na alface, manga no agrião, geléia na rúcula e invencionices do gênero merece a forca.

Bufê a quilo não é restaurante gourmet, caramba. Se fosse, a comida não ficaria cozinhando mais do que o necessário no bufê com um monte de gente falando em cima e deixando cair cabelo nas 1.678 variedades. Claro que eu como em bufê a quilo. Por mim, ficaria sempre com o bom e velho pêéfe, mas é quase impossível evitar bufês a quilo hoje em dia. E, sim, alguns são bem honestos.

Porém, tergiverso. Não é exatamente em bufês a quilo que estou pensando agora, mas no refeitório da firma. O refeitório da firma tem uma comida comível quase todos os dias. Quando dizemos que está "excelente", queremos dizer que está "honesta". Quando classificamos como "boa", é porque está "comível". Nos demais dias, é uma tristeza.

Além do preço supersubsidiado, o outro ponto que acho legal no refeitório da firma é que sempre tem salada. Porque fazer salada em casa todos os dias é complicado. Então, mesmo nos dias de "tristeza", dá pra comer uma saladinha no refeitório da firma. Nem que seja de alface com tomate.

Hoje eu fiquei faceira. Tinha rúcula, alface americana, e o tomate estava bem bonitinho. Em seguida, o baque. Uma das saladas era uma coisa inacreditável: beterraba cozida com côco ralado! BETERRABA COZIDA COM CÔCO RALADO! Olha, posso dizer que dos 10 quilos que engordei quando morei em Sampa, pelo menos um terço foi comendo em restaurantes bacanas, com chefs criativos e misturas inusitadas. Agora... beterraba cozida com côco ralado? Isso eu NUNCA vi nem imaginei.

No fundo, eu me sinto uma antipática escrevendo isso. Afinal, só porque sei a diferença entre margarina e manteiga e azeite de oliva e óleo de soja me vejo no direito de achar que sei alguma coisa sobre gastronomia? Se bem que, lembrando de novo da beterraba com côco ralado, repenso o medo de parecer nojenta e concluo que se não me dá esse direito, deveria.

quarta-feira, 26 de julho de 2006

Eu tento, tento...

... mas não adianta. Não consigo fingir direito que não dou bola para o fato de que não vou precisar pensar no que te dar no segundo domingo de agosto. Velho, tem tanta coisa que tu ia gostar de ganhar!

Só a lista de livros e filmes que surgiram nos últimos dez anos preencheriam metade da memória dos computadores portáteis que tu provavelmente quereria usar, nem que fosse só pra jogar Paciência ;-)

terça-feira, 25 de julho de 2006

Dunga precisa de um novo lar

O "cara" é uma figuraça. Foi recolhido do meio da rua quando tinha pouco mais de um ano e sempre foi muito independente. Até agora, vinha morando numa casa com duas cadelas amigas, mas os "pais" humanos dele tiveram que voltar a morar em apartamentos, e ele não pode ir com eles. Porque o Dunga, apesar da elegância, é o que se pode chamar de espírito livre.

Diz a ex-dona, uma querida amiga, que não esconde a tristeza de não poder mais ficar com ele:
É um cachorro ótimo, bem dócil com pessoas e outros cães, e até gatos (depois de algumas latidas obrigatórias, ele deixa os bichanos em paz). Gosta muito de carinho e de estar perto da gente, e embora não tenha sido criado com crianças, interage bem com as que convive, aceitando carinhos e simplesmente se afastando quando eles começam a exagerar nos agarramentos.

É um vira-lata com pinta de lorde inglês, com um pêlo sedoso que chega a brilhar depois de um bom banho, mas não trai suas origens rueiras: tem espírito independente e adora longos passeios. Não foi acostumado a andar na guia, mas também gosta de acompanhar os donos em caminhadas e não há dúvidas de que pode aprender a andar de coleira muito bem.

Tem mais ou menos uns 6 anos, é forte e perfeitamente saudável, com todas as vacinas em dia. Ainda não foi castrado, mas isso pode ser providenciado antes da adoção. Não é um cão que impressione pelo porte ou que pareça feroz, mas é atento para todos os que passam na rua e sempre late quando alguém se aproxima do portão ou bate na campainha.
E então? Quem vai ser o sortudo novo dono do Dunga?

Enviar e-mails para: rauldodo@terra.com.br

domingo, 23 de julho de 2006

Ó vida, ó céus

O que faz a criatura quando ela chega às 23h de um domingo com a sensação de que a semana passada acabou de acabar e a que vem devia esperar pelo menos uns dois dias pra começar? Alguém aí tem um emprego com finais de semana e feriados livres pra me oferecer?

*

A única coisa boa de as minhas férias estarem longe é o fato de que eu não preciso me preocupar com a exorbitância das passagens aéreas.

sexta-feira, 21 de julho de 2006

Agora só no ano que vem

Ontem foi dia do amigo. Não sou do tipo que amaldiçoa essas "datas comerciais". Pelo contrário. Acho ótimo que inventem essas ocasiões artificiais em que a gente possa parar um pouquinho para lembrar de pessoas importantes com quem não conseguimos, por força da rotina maluca, falar e estar o quanto gostaríamos.

Pois no dia do amigo eu não falei com quase nenhum amigo meu. Com os que falei, passei batido pela oportunidade. Desculpa aí, queridos todos. É que esse mundo complicado e cruel não me deu tempo de respirar hoje. Quem mandou não estudar mais e resolver ser jornalista?

Bisous.

quinta-feira, 20 de julho de 2006

Porque eu estou mal humorada

Espero que essa venda da Varig pare com essa frescura de salvar a empresa com o dinheiro dos meus impostos. Da minha parte, seguirei preferindo Gol e TAM e voando Varig só quando for mais barato. Ou seja, nunca.

terça-feira, 18 de julho de 2006

Coisinhas

  • Sábado vimos Munique. Spielberg decepcionante, comprido demais, lento demais, explicadinho demais. Passa o recado, mas poderia ser mais contundente.
  • O que é aquele Eric Bana de tão ruim?
  • De onde tiraram que aquele Daniel Craig pode ser James Bond?
  • Domingo eu e a Carol vimos Superman Returns. Gostei mais do que tinha me disposto a gostar.
  • Gostei do Brandon Routh, visivelmente escolhido pela semelhança com o Christopher Reeve, e da recuperação da voz do Marlon Brando como Jor-El.
  • Estou cansada. Preciso de férias de novo.

sábado, 15 de julho de 2006

Momento citação

Das consolações para as dificuldades...
Toda a vida é difícil; o que torna algumas vidas satisfatórias é a maneira de encarar o sofrimento. Todo infortúnio é um indício vago de que algo vai mal. Reverter ou não este prognóstico depende do grau de sagacidade e de determinação daquele que sofre. A ansiedade pode desencadear o pânico ou uma análise precisa de uma conjuntura desfavorável. Um sentimento de injustiça pode conduzir ao crime ou a uma obra teórica e bem fundamentada sobre economia. A inveja pode resultar em amargura ou a decisão de se entrar em competição com um rival e na produção de uma obra-prima.
Alain de Botton, em As Consolações da Filosofia, p. 253.

quinta-feira, 13 de julho de 2006

Aviso à praça

Eu não vou votar nulo.

Por favor, não me façam começar a falar sobre o assunto. Vocês não querem ouvir/ler o que tenho a dizer sobre essa idéia de jerico. Não quero ferir suscetibilidades.

Obrigada.

***

Update que se mostra necessário: Eu não disse para os meus queridos leitores não votarem nulo. Não disse que vou tentar convencê-los do contrário. Só disse que eu não vou votar nulo, ponto. E ninguém vai me convencer do contrário. Não percam o tempo de vocês. Nem o o meu.

Mais uma vez, obrigada.

segunda-feira, 10 de julho de 2006

Das lições da vida

Tem víveres que nunca podem faltar na minha casa, mas tem coisas que eu só compro quando vou comer mesmo. Frutas, legumes e verduras, por exemplo. Depois de muita coisa podre jogada fora – comprando quilos e mais quilos em afãs naturebas –, aprendi a fazer isso.

Hoje, na fila para pesar os tomates, batatas e cebolas que estão na categoria que nunca podem faltar, fiquei esperando um bom tempo enquanto uma senhora acima do peso pesava sacos e mais sacos de todos os legumes e frutas disponíveis no Zaffari, tudo num carrinho cheio de verdes.

Como se tivesse me ouvido pensar "Ih, voltou da nutricionista há pouco", ela olhou para trás, meio que se desculpando, e disse:

– Estou começando uma dieta furiosa.

Pensei em alertá-la para o fato de que ela não ia conseguir consumir tudo aquilo antes que estragassem – been there, done that! –, mas não quis parecer estraga-prazeres. Deixa ela descobrir sozinha.

domingo, 9 de julho de 2006

Ufa

Com o fim da Copa e o último capítulo da Belíssima, acho que agora podemos falar em eleições de vez, né?

Fazer o quê? Eu curto eleições.

sábado, 8 de julho de 2006

Minha mãe, essa figuraça

Eu falo muito no meu pai por aqui. Porque ele foi importante, é importante e foi embora muito cedo. Isso não quer dizer que a minha mãe tenha menos importância, mas a verdade é que não falo muito nela, e às vezes me culpo um pouco por isso. Daí me dou conta de que é porque falo muito com ela e, de muitas maneiras, eu sou ela.

Hoje ela faz 59 anos. Às vésperas de se tornar uma sexagenária – palavrinha feia essa –, parece muito mais jovem do que eu e a Carolina – minha irmã (mais nova, mais alta, mais magra e loira, humpf) – juntas. Absolutamente antenada, só não perde muito tempo aprendendo coisas que não quer aprender – navegar na Internet, por exemplo. Dona de uma tolerância excessiva, não tem a menor paciência para o que não a interessa.

Duas vezes por semana fazemos yoga juntas e, preciso confessar, não canso de me espantar com a capacidade física dessa criatura de um metro e sessenta que caminha rápido o tempo todo e fala pelos cotovelos. Está sempre reclamando que tem muita coisa por fazer, mas cuida de tudo e de todos, como se tudo e todos fossem mais importante do que ela própria. Felizmente, está aprendendo a cuidar mais dela também.

Segundo os amigos (meus e da Carol), ela é "iluminada", "mãezona", "figuraça". Desde que consigo me lembrar, é com ela que as amigas conversam sobre coisas que não conseguem conversar com as próprias mães. É dela o "Bolo de Fanta" que se torna inesquecível à primeira mordida e dela a execução de pratos que o Márcio usa como parâmetro para os meus. "Está quase como o da tua mãe", diz ele, quando quer me elogiar.

Quando, aos 48 anos, perdeu o amor da vida dela – sim, aquele pai que volta e meia aparece citado aqui –, juro ter ficado com medo de ela não resistir. Mas ela agüentou firme e seguiu e segue por aqui, construindo uma história que, ano a ano, fica mais ampla, mais iluminada, mais colorida.

*

Este post não é um presente nem uma homenagem de aniversário. É, isto sim, um agradecimento e uma lembrança de que, se não falo mais sobre ela, é porque não precisa. Ela é maior do que isso.

Era ISSO o que eu queria dizer

Claro que preferia eu mesma ter escrito o que vem abaixo. Enquanto não aprendo, sigo agradecendo que exista alguém que traduza o que estou pensando com mais competência.
A vitória da falta de modos

Tutty Vasques

A raça humana – ô, raça! - anda carente de paradigmas. Está cada vez mais difícil, como se sabe, dizer quem é o cara seja na política, nas artes, no meio sindical, no mundo GLS, nas organizações não governamentais, na badalação fashion, no crime organizado, na imprensa... Pegando o futebol como exemplo da hora, a gente percebe a dificuldade dos especialistas no assunto para apontar o nome da Copa. Zinedine Zidane tem sido lembrado muito mais pelo desfecho digno que ele vem imprimindo à sua biografia do que exatamente pelo esplendor do momento que vive na Alemanha.

Falando português claro, paradigma é o escambau, o mundo anda é medíocre pra caraca! Nessas horas - o filósofo Joel Santana me corrija se eu estiver errado -, surge sempre a figura do administrador de mediocridade como solução. Se ninguém faz a menor idéia de como resolver o problema melhor chamar quem saiba dele tirar o melhor proveito. Não pretendia tocar nesse assunto – do contra já basta o Diogo Mainardi -, mas quando Pedro Bial evocou o poeta russo Vladimir Mayakovsky para definir Felipão (“Nele a anatomia ficou louca, ele é só coração”), concluí que valia a pena dar minha cara à tapa para dizer o que penso a respeito do técnico da seleção portuguesa: acho ele o fim do mundo.

Azar o meu! O mundo inteiro – aí incluída a raça em extinção de pessoas inteligentes - está absolutamente encantado com toda aquela grosseria, força bruta, falta de modos, dificuldade com as palavras para dizer o que pensa, desequilíbrio emocional, teimosia, agressividade gratuita, desespero em forma de oração, tudo isso reunido numa coreografia assustadora à beira do gramado. Veja só como Pedro Bial justifica o gajo:

“Racionalidade? Scolari faz questão de não ser apresentado a essa senhora. Reclamar é parte importante no repertório de Felipão. Durante todo o jogo, ele não fica sentado mais do que 5 segundos. Seus assistentes levam cotoveladas, ele soca o abrigo, xinga o bandeirinha. Fiel ao jeito Felipão de ser não vai embora sem dizer uns desaforos para o juiz. Não é grave, como dizem os franceses.”

Pas grave é o escambau. Meu amigo Bial, como de resto quase todo mundo, parece enfeitiçado a ponto de transformar o que bem poderia ser denúncia em elogio. Parece que quanto mais estourado, fora de si, descontrolado, possuído e careteiro, melhor. Temo que o exemplo extrapole o futebol e atinja a política, as artes, o meio sindical, o mundo GLS, as organizações não governamentais, a badalação fashion, o crime organizado a imprensa... Imagine um mundo só de felipões! Pra mim, parece um pesadelo pior que o sonho do hexa.

Se aqui no Brasil esse desejo de felipização do mundo é maior que no resto do planeta, a culpa é do Parreira – sempre ele! -, que se comportou como o avesso do Scolari na Copa do Mundo. Aquela coisa deprimida no banco de reservas, defendendo falsas idéias em inglês nas entrevistas coletivas, fez nascer a expectativa pelo extremo oposto. Depois dele, o país apostou todas as suas fichas na vitória da boçalidade – pronto, falei! -, como se não existissem alternativas inteligentes na droga do mundo.

Se bem que, quando penso em Vanderlei Luxemburgo, me dá uma saudade danada do Felipão, apesar do Murtosa. Você sabe o que é Murtosa? Se não o conhece, favor apagar esse parágrafo. Caso contrário, não me provoque: não direi jamais o que penso a respeito.

quinta-feira, 6 de julho de 2006

quarta-feira, 5 de julho de 2006

Para deixar registrado

  • Eu torci para o Brasil em 2002, não para o Felipão.
  • Eu torceria para Portugal hoje, mas não para o Felipão.
  • Não é a imprensa que vai me dizer para quem eu devo ou não torcer.
  • Se é pra ser desclassificado da Copa, que seja pelos campeões.
Allez les bleus!!!

segunda-feira, 3 de julho de 2006

Apática sou eu, graças a Deus

Putz, que chato. Perdemos pra França. Mas a França jogou muito melhor. O Zidane jogou pra caramba. Foi justo. Enfim, sou apática, graças a Deus.

Não tenho nenhuma tese, não culpo ninguém e acho que essa raiva generalizada do Roberto Carlos (embora ele ter se abaixado na hora do gol realmente não tenha explicação), do Cafu (desde que ele dedicou a taça do Penta à Regina ele não me desce, mas, e daí?), do Parreira (que ajudou a trazer o Tetra em 1994, lembram?) e do Zagallo (que ajudou a trazer o Tri em 1970, lembram?) está passando da conta.

Hoje de manhã, ouvi no rádio que tinha cento e cinqüenta pessoas no Aeroporto Tom Jobim (o Galeão, lembra?) só para xingar o Parreira. Cento e cinqüenta. Três ônibus lotados. Ah, tenha santa paciência! Vão se tratar.

Ainda bem que a Copa acabou.

Desmoralizante

O meu post mais comentado dos últimos tempos consiste num emoticom com reticências.